Tripular um Boeing 314 era um exercício de complexidade e concentração que exigia conhecimentos profundos em vários domínios , além de uma considerável resistência física . Como se constata ne imagem de cima , "eram 22 horas até Lisboa , mais sete até Marselha" , frequentemente em condições meteorológicas adversas e recorrendo a instrumentação ainda muito pouco evoluída . Repare-se no painel central do cockpit , onde os instrumentos mais em evidência são o "turn and bank indicator" ( vulgo "pau e bola" ) e um rudimentar horizonte artificial .
Na fotografia intermédia podem ver-se o radiotelegrafista , à esquerda , e o mecânico de voo ( flight engineer ) , cujas funções eram , respectivamente , manter contacto com as estações de comunicações através de código Morse e rádio , e controlar os sistemas do avião monitorando pressões de óleo e rotações dos motores , equilibrar o combustível nos tanques e distribuir a produção eléctrica dos geradores associados a cada motor , além de muitas outras tarefas . Como já foi dito , o mecânico tinha acesso aos quatro motores em voo , através de um pequeno "túnel" que corria ao longo da asa . Imagino que tal procedimento não deveria fazer as delícias dos tripulantes envolvidos , quer pelo ruído ( mais de seis mil cavalos a "roncar" , em simultâneo ) quer pelas vibrações transmitidas à estrutura .
Finalmente , pode ver-se o navegador no seu posto de observação , tentando determinar a posição do avião .
Na actual geração de aviões comerciais os lugares de navegador , mecânico e radiotelegrafista foram extintos , sendo as suas funções desempenhadas pelos pilotos e por sistemas informáticos de grande precisão . Inquestionavelmente , os aviões tornaram-se mais seguros mas os cockpits são hoje lugares solitários onde o tempo demora demasiado a passar .